a sua escrita cativa-me. o que mais aprecio na escrita dele é a sua sinceridade e maneira clara e sem pudores de falar do que para ele é o amor.
os livros são sempre uma forma de ler intimidades e nos reconhecermos nelas.
já vou ter o que ler nos próximos dias. mas é para usar com moderação.
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não resisto em deixar uns trechos de páginas que abri ao calhas ainda na Fnac e me fizeram ter a certeza que os queria trazer comigo.
"CARTAS DE OUTONO"
"enquanto dormes constrói-me um rosto de luz, no limbo do teu sonho. toca-o e acorda-me.
caminha comigo, peço-te na inquitação daquele rosto, e nesta alegria suspensa na solidão.
há séculos que te esperava para fugirmos... e não sabia que a fuga era possivel, pelas estradas de giestas, em direcção ao mar.
dorme e consente que o meu coração escute o teu.
quero arder contigo numa eternidade feita de pontes atravessadas, quilómetros nocturnos e segundos de asfalto.
para trás ficou a cidade, e tu sabes que a cidade só existe no apanhar de um táxi. e perdermo-nos até amanhã -- sem querer podermos dizer adeus, porque não podemos dizer adeus ao amor.
amanhã, ou enquanto dormes -- agora mesmo -- vou pensar em ti. intensamente.
até que as horas me doam sobre a pele, e o movimento dos dias passe como aves que perdem o sentido do voo -- até que tudo o que me rodeie tome a forma do teu corpo.
e em mim circules -- quando estendo a mão por dentro da noite e te acordo no fogo dos meus olhos.
«aí vem o 28 dos Prazeres... e um táxi.»
«não me abandones... fica...»
e o vinte e oito passa, e passa o táxi, enquanto olhamos um para o outro.
vamos pela manhã que se ergue, onde as palavras que digo se confundem com o teu sorriso.
e os semaforos mudam de cor, inutilmente.
silêncio sobre silêncio. a vida suspensa no estremecer de um abraço.
«até logo. se te lembrares de mim, telefona.»
fecho por fim as pálpebras. o teu rosto sobrepõe-se à imagem do meu rosto.
a tua mão esconde-se na imagem da minha mão.
passamos a vida numa espécie de silêncio, numa mudez terrível que se quebra, ainda que raramente, diante de certas coisas que nos contaram e nos deslumbraram.
mas é tarde. as coisas que nos deslumbraram eram éfemeras e breves. e não se pode voltar atrás.
o teu sorriso colou-se-me à boca.
assim te raptei uma noite -- com ansiedade e susto.
e assim te mantenho vivo e amo, dentro e fora do poema.
hoje tudo me parece novo e antigo, em simultâneo, como se soubesse que havias de chegar e mudar-me a vida, o rumo, e depois partir.
lá fora chove. chove sem parar. e Lisboa parece encolher-se dentro do teu sono."
Al Berto - Dispersos ( excerto págs 67 - 73)
2 comentários:
Suave. Como encostar a cabeça no ombro de alguém.
:)
adoro al berto...
olha! acho q é mesmo isso que estou a precisar...
hm... tenh"O Medo"
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