e se estivessemos os dois agora sentados num banco de madeira? -- pergunta-me ele outra vez.
se estivessemos sentados num banco de madeira.. mas a verdade é que não estamos. -- olho para o meu copo vazio a esconder o vazio do meu olhar.
pois não, mas e se estivessemos, tal como na estória que contaste ainda á pouco.
aí é que te enganas, eu não te contei estória nenhuma.. é a minha vida, um episódio da minha vida já de á muito.. -- tento levantar-me a custo do sofá, mas o meu estado de embriaguez não me favorece na rapidez dos gestos.
hey eu.. eu não queria dizer isso nesse sentido. desculpa se o entendeste assim.
não, eu é que peço desculpa.. -- baixo os olhos e enquanto remexo na camisola -- desculpa, a sério. ás vezes sou bruta a responder a perguntas que são completamente inocentes. deixei-me levar pelo sentimento e quando te ouvi chamar "estórias", bom, achei que estavas a fazer uma análise errada e leviana de uma cena que pra mim foi mais do que uma simples.. estorinha pra te entreter os ouvidos.
ok, mas agora já sabes da verdade das minhas intenções podes responder á minha pergunta então?
olho pra ele. acho que o estou a julgar mal.
talvez esteja a responder-lhe torto porque ele me faz lembrar alguém de quem gosto.. ou de quem gostei.. e receio que isso possa estar a acontecer de novo, e ele nem sabe do turbilhão que praqui vai.
e ainda bem.. -- deixo escapar num suspiro enquanto agarro na garrafa de gin.
ainda bem!.. então quer dizer que me perdoas?? -- pergunta num sorriso enquanto se ajoelha no tapete e tira da cabeça um daqueles chapéus de papel ridiculos que nos deram no inicio da festa e que eu deixei logo num móvel à entrada.
sim.. estás perdoado! -- e faço o sinal da cruz na testa com um bocado de gin que tenho nos dedos. -- agora vai em paz e que deus o altíssimo te acompanhe!
e.. a minha resposta? -- senta-se novamente ao meu lado no sofá. olha-me com um sorriso. aquele sorriso vai ser o meu fim..
ok.. eu repondo-te. mas primeiro preciso de beber este copo pra me inspirar..
findo o copo. respiro fundo como quem toma balanço.
pois bem, então cá vai.. se estivessemos os dois sentados num banco de madeira, imagino que seria naquele espaço de tempo que vai desde o fim da noite e o inevitavel amanhecer. não vês muita gente nas ruas, só as pessoas que se levantam cedo porque vão trabalhar.. e pequenos grupos de malta que vai tropeçando pelas ruas até aterrar a bebedeira na cama mais próxima.
nós continuariamos no tal banco de madeira e teríamos todo um tempo pra matar com conversas e silêncios. e estaria frio.
a dada altura sei que pousaria a cabeça no teu colo.. e depois tu no meu. não me perguntes agora qual a ordem.. e quando isso acontecesse tu dirias coisas genialmente pavas como "ao ver a tua cara aí deitada no meu colo estou a imaginar que tens uns olhos no queixo.. e é giro e estranho estar a ver-te falar ao imaginar isso."
e eu sei que me ia rir.. e isso iria abrir automaticamente uma porta pra que tu entrasses em sitios que não me cabe evitar que entres e aí seria inevitavel apaixonar-me por ti.
vês agora o porquê de não nos podermos sentar juntos num banco de madeira? -- olho pra ele no final da frase. tem um semblante entre o atento e o sério, mas não lhe consigo descodificar as emoções.
levanto-me do sofá e percorro o corredor com o meu copo vazio e um aperto no coração que bate estupidamente rápido.
e enquanto o soalho vai rangendo debaixo dos meus pés esforço-me por manter o equilibrio e principalmente não me questionar o porquê desse bater descompassado.
1 comentário:
É melhor evitar os bancos de madeira mesmo! E também a bebedeira!
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