13 janeiro 2010

#25 doença.crónica

deitei fora tudo..
atirei pela janela os discos velhos, rasguei as cartas..
no final agitei os braços com força como que a querer livrar-me de todo aquele pó do tempo que sentia entranhado nas minhas mãos.. na ponta dos meus dedos.
nada ficou no lugar.
isso deveria ter-me alegrado (?) ou fazer-me sentir mais aliviada, mas não..
depois de tudo deixei as minhas lágrimas lavarem o que restava e varri a sala com um olhar desolado.
amarrotei a saia quando me sentei no chão e levei as mãos á cabeça e remexi nos cabelos enquanto que imagens nossas me passavam como se fossem fragmentos dum filme..
quando é que as coisas tinham deixado de ter piada?
quando..?
acho que foi gradual.. só pode. ninguém acorda um dia e diz que já não gosta.
entretanto foi deixando morrer.. foi deixando de cuidar..
a porta da rua fez barulho anunciando a tua chegada.
levantei-me do chão, recompus-me o melhor possivel e tratei de esconder a cara e fingi que estava á procura de alguma coisa.
mas já tinha tudo, nada mais nos prendia ali a uma situação que gradualmente se encaminhava para o que os entendidos dariam um nome escanifobético qualquer.. mas que para mim era apenas triste.
é triste engolir palavras.. é triste não te ouvir dizer outras tantas.
pus as minhas mãos á volta do teu pescoço.. o meu coração batia a uma velocidade estonteante. tentei sorrir quando os nossos olhos estavam um no outro como quem diz: "é.. parece que temos de fazer por não ser tão dificil.." -- mas que estupidez!!, claro que custa.. claro que dói.. mas o que me deu para escapar uma frase tão infeliz como esta?
o medo que uma pessoa tem do ridiculo.. o medo que se tem de dizer o que queremos.. o medo que tive que dissesses algo que me fizesse impedir de sair dali o mais depressa possivel..
mas tal não aconteceu.
não disseste nada.. e eu pensei "muito obrigada por me facilitares a tarefa de largar tudo" -- e soube-me a azedo.
agarrei na mala e comecei a descer as escadas.
segurei com força o puxador e só parei quando estava já na rua e ouvi o estrondo do bater da porta.
adeus.. adeus.

1 comentário:

suru disse...

Queria que tivesses tempo e inspiração para escreveres mais disto.
Porque me sabe bem ler. :-)
Mas acredito que quando escreves assim estás naquele limbo dificil e te deve ser complicado...
Por isso,um sorriso para ti minha querida.