17 outubro 2010

#33 doença.crónica

ele deu uma gargalhada como se eu tivesse acabado de contar a piada mais genial deste mundo e do outro.
fiquei a olhar para ele sem saber bem o que dizer e a arrepender-me de ter denunciado tão declaradamente do meu suposto ciúme.
ela é minha afilhada de curso, é uma miúda porreira, mas.. nada a ver.. -- termina com uma gargalhada.
pois.. eu não quis dizer com essa intenção.. eu só..
mas tinhas alguma intenção quando fizeste esse comentário? -- interrompe ele.
não.. não. porque haveria de ter.. -- desvio a cara. mato o cigarro.
sabes uma coisa mesmo gira.. mesmo mesmo gira??? -- sentei-me no tal tapete verde alface. -- há uns 18 anos, andava eu na preparatória e estava num furo.. quer dizer, não tinhamos tido a aula. já não me lembro agora do quê.. e então fomos lá para fora para o recreio, ver o pessoal a jogar à bola no ringue.
estava no meu grupo um rapazito que era repetente na turma. acho que se chamava hugo.. era isso.. eu tinha um interesse particular no sujeito, mas nem me dei grande conta.. só num momento em que casualmente nos sentámos próximos um do outro no banco de madeira a ver o resto dos putos a jogar á bola.. aí senti qualquer coisa.. acho que foi aí que me apercebi que gostava de alguém.
mas a coisa não correu grandemente.. o puto escreveu no muro da escola "amo-te sofia 6ºf", andar de mão dada nos intervalos.. e essas tretas todas, mas.. mais tarde vim a descobrir que ele só o fizera para fazer ciúmes a uma outra miúda da turma.. a rita.
enfim.. foi grande merda. -- dou um gole.
deviam dizer-nos a dada altura da nossa vida, quando somos putos e parece que o mundo nos cai em cima e é tudo grande drama, que a vida não se resume àqueles momentinhos merdosos.. e que é só uma fase.. só uma fase.
mas a verdade é que há pouco, quando te vi ali no corredor.. senti-me outra vez como uma miúda de 11 anos a sentir aquela infatuation e a não saber lidar com as coisas. tal e qual.
e se estivessemos os dois agora sentados num banco de madeira? -- pergunta-me ele.

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