16 abril 2008

#10 doença.crónica

"quando dormes
e te esqueces
o que vês?
tu quem és?
quando eu voltar
o que vais dizer?
vou sentar no meu lugar...
quando acordas,
por quem chamas tu?
vou esperar...
eu vou ficar nos teus braços,
eu vou conseguir fixar o teu ar, a tua surpresa.."


pelo ar do vagueavam dispersas estas notas que ecoavam numa sala que se quereria cheia mas que naquele principio de tarde ainda as palavras murmuradas pareciam altas demais..
ele estava sentado na ultima mesa do bar a rabiscar uns desenhos numa folha arrancada da mesa. ela viu-o através do vidro do café com a cabeça inclinada e olhar absorto, e deixou-se estar a olhar para ele durante alguns minutos a isolar cada movimento que ele fazia enquanto o cigarro lhe ardia nos lábios.

donde estava podia ve-lo sem que ele desse conta.. mas não sabia ao certo quanto tempo teria passado quando começou a sentir-se embaraçada por o coração lhe bater tão forte no peito a cada gesto que ele fazia.
teve medo que o pulsar do seu coração conseguisse ultrapassar a camada de vidro que os separava por isso apagou o cigarro que acendera, sacudiu o cabelo num gesto entre o nervoso e como quem ganha coragem, ajeitou a saia e entrou no café.
ele levantou-se e começou a vasculhar no bolso das calças como quem procura uma qualquer nota amarrotada que ali permanece ao fim de mais um dia, na vã tentativa de que fosse surgir a qualquer instante, desde que a procurasse bem.
no meio desses gestos frenéticos olhou-a nos olhos..
e assim lhe saiu um sorriso.

nesse preciso instante foi como se a felicidade se tivesse sentado com eles à mesa e começado a desenhar uma qualquer dança no ar.

e o dia termina.

1 comentário:

J.MARTINS disse...

Optima imagem!! Gostei e vou voltar...
PS: vou-te "linkar" no meu blogue. ta?