aqui está.. espero que gostes. escolhi por ti e fiz-te este chá.. é de maçã-canela; espero que gostes porque ou era esse ou um de camomila e.. bom, eu não queria que adormecesses já -- disse depois com uma gargalhada.
adoro, obrigada pelo trabalho qure tiveste ali pela cozinha, suponho. -- respondi-lhe estendendo as mãos para a chávena.
sem problema. normalmente quando trago alguém cá a casa é tudo na base da cerveja ou whisky.. e para ser sincero já tinha saudades de ir à cozinha fazer algo diferente. de preferência para alguém que não apenas eu.
entreti-me a olhar para a chavena de chá.. pareceu-me ser vermelha.. ou então de um castanho escuro.. ou então.. no escuro o sentido da visão não nos serve para muito mesmo.
e então, gostas do espaço?
sim.. é muito acolhedor, e é bom poder dizer isso de uma casa.. é acolhedora. e a vista é de facto impressionante, como disseste.
aah!! mas antes de mais.. -- disse levantando-se de repente e ligado o interruptor da luz -- voilá!
os meus olhos de inicio estranharam aquela luminosidade repentina. depois entretiveram-se a (re)descobrir o espaço.
a música tinha parado.
deixa-me só pôr umas musicas de uma banda que tenho andado a escutar.. se bem que escolheste muito bem a banda sonora à pouco.. -- e sorri-me com os olhos. reparo melhor nos dele nesse momento em que o nosso olhar se cruza.
foi apenas o tempo de ele voltar a trocar o CD.. e o som de Sean Riley ecoa pelo pequeno espaço da sala.
"Let the good times roll.."
excelente escolha. vi-os na aula magna há quase um ano. foram uma boa surpresa. -- digo eu enquanto me levanto para iniciar uma pequena tour pela casa. posso? -- pergunto erguendo a chávena do chá..
claro que sim. sente-te como se estivesses em.. casa.
sorri.
dei uma volta e comecei a dar uma vista de olhos pelas prateleiras.. livros.. uma unica moldura com uma foto a preto e branco, pelo aspecto diria ser já bastante antiga.. lá estava um homem fardado, de aspecto distinto, com traços muito semelhantes aos dele. apenas a cor dos olhos era diferente. mas o sorriso,esse era exactamente igual.
uma garrafa de whisky a meio, uma revista da semana anterior.. papéis escrevinhados assomavam debaixo das folhas de um qualquer jornal; senti-me tentada a ler mas não me pareceu por bem fazê-lo.
os livros estavam empilhados sem uma ordem lógica aparente.. li as lombadas.. Pessoa.. -- um clássico este senhor -- disse-lhe da outra ponta da sala. poesia, Allan Poe, livros sobre cinema, antropologia.. arquelogia.. -- muito bom.. vais ter de me emprestar algum dos teus livros..
posso emprestar-te o que quiseres. tens aí um muito bom.. já o terminei de ler pela quarta vez. -- e aponta para o sofá.
humm.. Henry Miller.. -- digo-lhe com um sorriso trocista.. -- este Trópico de Cancer é sempre qualquer coisa. mas estava a pensar em raptar-te o Poe.
deixa lá o Poe sossegado para uma nova viagem. trás daí o Miller para se juntar a nós. eu leio-te um trecho e vais ver que vais querer levá-lo contigo. -- diz-me da outra ponta da sala onde continuava sentado junto á janela.
arrasto o Miller, o resto do chá maçã-canela comigo e sento-me ao lado dele. estendo-lhe o livro.
ele leva primeiro a mão a uma mecha de cabelo que lhe caia para a cara e depois abre decididamente o livro numa página que parecia já saber de cor.
1 comentário:
bem... dois episódios em dois dias.... estás a mimar-nos... vamos ficar mal habituados.... =P
Beijo
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