10 junho 2009

blood-red

ele segura um copo de vinho.
circula pela sala e diz.. "já não nos conhecemos? tenho a sensação de que já te vi.. onde moras? eu moro na 17éme. devo ter-te visto no bairro, não?"
ele apenas levanta os olhos.
"não és muito conversador.. não sei mas, parece-me que já te vi -- insiste -- tens um aspecto místico, a sério. emana de ti algo muito especial. acreditas em espíritos? talvez nos tivessemos conhecido noutro tempo.. noutra época.."
- "dá-me lume".
- "lume?"
- "obrigado".
- "e é espantoso porque assim que te vi senti necessidade de falar contigo. foi como se.. não sei.. -- diz enquanto guarda o isqueiro no bolso do casaco -- foi um sentimento muito forte, estranho.. pensei que.. se não te falasse antes de me ir embora.. iria passar ao lado.. ao lado de algo importante."
baixa os olhos perante o silêncio.
"eu sei que é uma palermice, mas não queria.. em resumo, dás-me licença? -- senta-se numa cadeira em frente a ele -- gostas de jazz? charlie parker?.. eu adoro.. enfim.. não interessa. ouve, vou-te deixar o meu numero. gostava muito de falar contigo.. se tu me telefonares, mais a sério.. e.. com mais tempo. sobretudo mais tempo.
estende-lhe o papel.
- "obrigado".

já está. boa viagem. adeus.

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