«Hope» de Gustav Klimt
tenho andado a evitar escrever aqui pelo blog o assunto que mais tem levantado questões ultimamente e pôr a fervilhar multidões de opiniões..
pretendo apenas expôr o meu ponto de vista, não vou usar este assunto como arma de arremesso porque o julgo demasiado importante para passar por aí.
por mim deveria ser um tema que passasse completamente ao lado de ideologias politicas, vontades partidárias e moralismos religiosos.
preferia que a unica coisa que aqui contasse verdadeiramente fosse o bom senso, a reflexão intima de cada um.. que as pessoas agissem em conformidade com os seus valores e.. será isso tão utópico?
Sofia, Sofia.. estarás tu a ser.. naive?
Não sei..
mas bom, continuando a tentar seguir a minha linha de pensamento..
para quem ainda chegou aqui à linha 14 deste texto sem se aperceber que vou falar da questão do referendo do aborto.. bom é exactamente disso que se trata.
confesso desde já que o vou fazer nos termos de uma cidadã comum, sem referência a leis ou preferencias politicas porque nunca fiz questão de me alistar a nenhum partido, procuro sim estar minimamente informada e de cada vez que vou às urnas voto segundo a minha consciência para o que julgo ser a melhor solução, quer ela seja rosa, laranja, vermelha ou até mesmo voto em branco. o importante é ir e deixar o voto, deixar marcado o nosso ponto de vista.
as pessoas por vezes esquecem-se do enorme previlégio que é viverem numa democracia, que muitos morreram a lutar por um direito de serem ouvidos, e apesar do muito que ainda nos falta caminhar para viver num estado justo para todos, o facto de a nossa voz poder ser ouvida não deve ser desperdiçado.
é o momento em que podemos deixar ouvir a nossa voz.
já estou prestes a perder-me em tantas linhas.
voltando ao assunto do aborto.. acho que não vou conseguir fazer um discurso meramente racional.. é uma questão que nos envolve e muitas vezes gera discussões e polémicas bem tristes entre políticos e membros da Igreja,que esses sim na minha modesta opinião de espectadora desses combates ridiculos, me deixam sempre com um aperto na barriga.
eu não quero ser controlada por um sistema que se impõe e nos tenta travar o pensamento. eduquem-se as pessoas a serem livres, a serem conscientes.. e não robots ou marionetas.
não me quero reger pelos ideiais de uma Igreja que considero obsoleta - e meus amigos, quem vos escreve é alguém que foi baptizada tinha 4 meses de vida, fez o seu percurso todo pela catequese e até chegou a cantar no coro até aos 11..
mas como ia dizendo, a Igreja já deu mostras muitas vezes de estar completamente à margem das problemas do mundo.. parecem viver à margem de tudo.. ignoram completamente flagelos sociais como a SIDA e nem o sofrimento de inúmeras pessoas que morrem no mundo devido a esta doença que poderia vir a ser combatida através da informação e claro, na prevenção.. e por prevenção falo óbviamente na distribuição gratuita do preservativo, no incentivo à educação sexual, a falar-se das coisas sem medo, a idade das trevas não há maneira de acabar para estes senhores??
mas desde quando ainda é possivel aceitar-se que o acto sexual serve apenas para fins reprodutivos? terá sido Deus nosso Senhor a dizer tal coisa? mas onde deixou Ele escrito isso..?
não quero acreditar que passado mais de 2000 anos estamos por vezes tão próximos de um ponto de partida e não há meio de arrancar..
tenho ponderado muitos factores desta questão. sim, nem tudo é preto ou branco, há areas cinzentas. mas tem sempre de se escolher um lado da questão e defende-lo, e no que diz respeito a este assunto, eu sou a favor do sim.
passo a explicar: eu sou a favor do sim (da despenalização do aborto) porque tenho consciência que com ou sem despenalização, o aborto vais sempre existir, sempre existiu, não é uma prática recente por isso deixem-se de hipocrisias e de fazer como as avestruzes e enfiar a cabeça na areia e não ver a realidade.
na verdade quantos de nós não conhecemos pelo menos uma pessoa que já teve de enfrentar esta situação?
será que o fez com um sorriso nos lábios e a leveza de alma como se não fosse nada?
não me parece. eu sei.. talvez haja quem o faça, mas eu não vou pensar pela cabeça dos outros.
o facto de votar sim não faz de mim uma criminosa, alguém que não respeita a vida ou uma remota hipotese de passar uma eternidade a arder nas brasinhas do inferno. eu vejo o aborto como um problema e não uma solução. não é um penso rápido que se coloca pra estancar uma ferida.
não é.
mas é uma realidade social. e não é comum apenas nas ditas classes socias desfavorecidas, pois quem tem recursos económicos vão continuar a ir cómodamente a clinicas estrangeiras fazer os desmanchos (esta palavra é dura mas tinha de ser) e não correm riscos de vir a morrer ou ficar estrupiadas para toda a vida nas mãos de uma carniceira.
respeite-se a vida, claro que sim, mas em que vidas estamos a falar quando falamos de respeito?
alguém leva em consideração a vida da grávida? levar-se-á em consideração o que a levou a engravidar e o que a levou a estar ali deitar-se na marquesa à mercê de alguém? o que pensa ela enquanto ali está deitada e lhe retiram parte de si? não pensará ela em medos, em culpa, nas cicatrizes emocionais que fica depois de tudo.
será que ela vai conseguir mais fácilmente respirar de alivio ou soluçar no ombro da amiga, ou calar essa dor para si e esconder dos outros o que fez.
não sei se os senhores politicos ou os senhores padres, bispos e que mais pensam de facto nisto, limitam-se a abanar as cabeças em tom de condenação ou reprovação.
disse sim, que sou a favor da despenalização do aborto, da revisão da lei que já existe para regular este caso, mas eu não sou a favor da banalização do aborto.
sou antes sim a favor da implementação de uma educação cívica que passe pela informação e pela educação sexual que esclareça, que desmistifique e principalmente, que sirva pra prevenir que situações destas ocorram.
ao Estado cabe legislar, mas a educação começa em casa, com a familia, com os amigos.
mas muitas vezes apesar de toda a informação que possamos ter, azares acontecem e ninguém está livre deles.
dia 11 de Fevereiro realiza-se novamente um referendo em que se discute a questão da despenalização do aborto (segundo determinadas situações regulamentadas).
não me importa se votam sim ou não. nem o meu texto tem o intuito de evangelizar as pessoas.
apenas a fazer pensar. pensar não dói. e o pensamento é livre.
o que importa é mesmo que mexam as perninhas e vão votar.
sim.. é o momento de se manifestarem, de darem voz às vossas opiniões que discutem entre amigos, com a namorada, o namorado, a família. por isso seria de lamentar que não se fizessem ouvir.
é uma situação que muito diz respeito a esta geração e ás próximas.
enfim, foi um desabafo aqui da minha parte.
o texto poderia estar mais certinho, com as virgulas todas nos sitios certos e tudo mais, mas foi escrito num sopro e o que escrevi foi mais pela uso da emoção do que pela racionalidade de fazer um texto todo perfeitinho pra ilustrar algo.
daí as minhas sinceras desculpas, mas acho que dá para perceber.
um obrigado a quem o leu por inteiro. aqui também se fala a sério quando tem de ser.
tenho dito..