04 janeiro 2009

é madrugada

sentam-se..
cada um no canto de um sofá comprido. veludo verde. não falam. olham-se. não têm pressa de chegar a lado nenhum. ele pergunta se ela quer um sumo de alperce. diz que sim. ele levanta-se. com gelo ou sem gelo? ela diz: tanto faz. ele desaparece.
uma pessoa conhece outra pessoa porque não sabe muito bem o que está a fazer. senão não o faria.
uma pessoa é um mundo. um mundo é muito grande.. demasiado grande para a própria pessoa, com alguns abismos e lugares escondidos e zonas nunca iluminadas.
ela procura não pensar muito nisso.
o homem entra na sala com um copo de sumo de alperce em cada mão. diz: aqui tem. volta a ocupar o lugar exacto do sofá.
o mundo é estranho. está sempre a mudar e é sempre o mesmo. é o que pensa enquanto prova o sumo de alperce. ela diz: obrigada. é tão estranho existir sumo de alperce, diz julgando-se só. ele pede para ela repetir porque não ouviu bem e ela diz: não é nada importante.
ambos parecem não pretender nada um do outro. por ela podiam continuar assim indefinidamente. ele não é bonito nem feio. por instantes parece mais bonito, por instantes mais feio. tenta vê-lo como se fosse feio. depois como se fosse belo. e consegue-o.
um pequeno defeito na expressão pode para sempre destruir uma cara de outro modo perfeita.

2 comentários:

Mokas disse...

hmm.... paixão... é realmente.... "preenchente"...

Paulo disse...

expressar mais alguma coisa seria um defeito a estragar um texto perfeito

é tão estranho encontrar um texto morno numa madrugada fria