acordo na mesma cama onde me deitei e deixei adormecer poucas horas atrás..
não sei ao certo quanto tempo passou desde que aqui estou..
aqui o tempo deixa de ser medido pelo contar dos ponteiros dos segundos mas pelo pulsar do coração, do sangue que corre mais célere nas veias..
abri os olhos, a luz mal entra no quarto mas sei que já devem ser perto da hora de partir.. a moleza impede-me de olhar para o relógio para confirmar as minhas desconfianças..
sei que vou ter de despertar o máximo que puder, levantar-me da cama, alcançar a roupa que atirei para cima do sofá na pressa de me despir na noite anterior e agora vou ter de a vestir, apesar de fria.. sentir aquele detestável contacto com a pele ainda quente causa-me arrepios e faz-me desejar regressar para cama.
sacudo a cabeça e os pensamentos.. assim é que nunca ia embora.
sinto-te a despertar e a olhar para mim.. esboço um sorriso.. acho que mo retribuis.. não o consigo ver bem, mas é daquelas coisas que se sente.
não falamos mais do que duas ou três frases. dás-me um abraço, um beijo e seguimos para caminhos diferentes.
sei que nos encontramonos depois..
já na rua respiro fundo, o ar do fim da manhã.. sinto-o na cara, os raios de sol que teimam em rasgar o céu numa promessa de primavera antecipada.
dou os primeiros passos de uma caminhada de regresso que vou fazer sozinha.. respiro fundo e com o respirar do primeiro ar da manhã respiro já a saudade de ter partido.
Oh, how we danced and we swallowed the night
For it was all ripe for dreaming
Oh, how we danced away all of the lights
We've always been out of our minds
(Tom Waits)