24 março 2009

#21 doença.crónica

aqui está.. espero que gostes. escolhi por ti e fiz-te este chá.. é de maçã-canela; espero que gostes porque ou era esse ou um de camomila e.. bom, eu não queria que adormecesses já -- disse depois com uma gargalhada.
adoro, obrigada pelo trabalho qure tiveste ali pela cozinha, suponho. -- respondi-lhe estendendo as mãos para a chávena.
sem problema. normalmente quando trago alguém cá a casa é tudo na base da cerveja ou whisky.. e para ser sincero já tinha saudades de ir à cozinha fazer algo diferente. de preferência para alguém que não apenas eu.
entreti-me a olhar para a chavena de chá.. pareceu-me ser vermelha.. ou então de um castanho escuro.. ou então.. no escuro o sentido da visão não nos serve para muito mesmo.
e então, gostas do espaço?
sim.. é muito acolhedor, e é bom poder dizer isso de uma casa.. é acolhedora. e a vista é de facto impressionante, como disseste.
aah!! mas antes de mais.. -- disse levantando-se de repente e ligado o interruptor da luz -- voilá!
os meus olhos de inicio estranharam aquela luminosidade repentina. depois entretiveram-se a (re)descobrir o espaço.
a música tinha parado.
deixa-me só pôr umas musicas de uma banda que tenho andado a escutar.. se bem que escolheste muito bem a banda sonora à pouco.. -- e sorri-me com os olhos. reparo melhor nos dele nesse momento em que o nosso olhar se cruza.
foi apenas o tempo de ele voltar a trocar o CD.. e o som de Sean Riley ecoa pelo pequeno espaço da sala.
"Let the good times roll.."
excelente escolha. vi-os na aula magna há quase um ano. foram uma boa surpresa. -- digo eu enquanto me levanto para iniciar uma pequena tour pela casa. posso? -- pergunto erguendo a chávena do chá..
claro que sim. sente-te como se estivesses em.. casa.
sorri.
dei uma volta e comecei a dar uma vista de olhos pelas prateleiras.. livros.. uma unica moldura com uma foto a preto e branco, pelo aspecto diria ser já bastante antiga.. lá estava um homem fardado, de aspecto distinto, com traços muito semelhantes aos dele. apenas a cor dos olhos era diferente. mas o sorriso,esse era exactamente igual.
uma garrafa de whisky a meio, uma revista da semana anterior.. papéis escrevinhados assomavam debaixo das folhas de um qualquer jornal; senti-me tentada a ler mas não me pareceu por bem fazê-lo.
os livros estavam empilhados sem uma ordem lógica aparente.. li as lombadas.. Pessoa.. -- um clássico este senhor -- disse-lhe da outra ponta da sala. poesia, Allan Poe, livros sobre cinema, antropologia.. arquelogia.. -- muito bom.. vais ter de me emprestar algum dos teus livros..
posso emprestar-te o que quiseres. tens aí um muito bom.. já o terminei de ler pela quarta vez. -- e aponta para o sofá.
humm.. Henry Miller.. -- digo-lhe com um sorriso trocista.. -- este Trópico de Cancer é sempre qualquer coisa. mas estava a pensar em raptar-te o Poe.
deixa lá o Poe sossegado para uma nova viagem. trás daí o Miller para se juntar a nós. eu leio-te um trecho e vais ver que vais querer levá-lo contigo. -- diz-me da outra ponta da sala onde continuava sentado junto á janela.
arrasto o Miller, o resto do chá maçã-canela comigo e sento-me ao lado dele. estendo-lhe o livro.
ele leva primeiro a mão a uma mecha de cabelo que lhe caia para a cara e depois abre decididamente o livro numa página que parecia já saber de cor.

22 março 2009

#20 doença.crónica

tinhamos saido para aquilo a que chamámos ser um "café rápido".
ainda assim cada um tinha feito um esforço visivel para estar bonito ao olhar um do outro.. senão não me teria olhado ao espelho aí umas três vezes no minimo antes de sair de casa.. e aquele casaco cor de mel que eu nunca lhe vira vestido também não tinha saído à rua sequer.
mas depois de estar algum tempo no bar tornara-se complicado dar continuação á conversa naquele lugar tão cheio de pessoas, fumo.. e com tão pouco espaço para uma conversa mais.. confortável.

e se dessemos um saltinho até minha casa.. é aqui perto.. isto se não te importares de caminhares comigo até aqui ao fundo da rua.. subimos umas escadinhas, o apartamento é logo ali.
acedi com um sorriso.

durante o caminho falámos de coisas triviais.. dei por mim a mexer no cabelo durante o percurso.. creio que estava ansiosa, ou nervosa.. ou talvez ambas as coisas.
ele tinha as mãos nos bolsos, não deu para decifrar.
tens frio? se quiseres eu empresto-te o casaco, apesar de ser perto, não quero que fiques doente por minha causa.
não tem problema.. estou bem assim.. além disso o teu casaco fica-me enorme..
humm.. eu até achava piada vê-lo em ti.
depois dessa frase ficámos calados.
parámos junto a um portão verde. de lá de dentro surgiu primeiro uma pequena sombra que deu depois lugar a um focinho curioso.
que giro tens um cão? -- perguntei enquanto passava a mão pelo novelo de pêlo preto.
não é meu.. é do senhorio. mas passa muito tempo em minha casa.. não tenhas medo, ele é completamente inofensivo, só quer mimos e atenção.
um pouco como as pessoas não?-- levantei-me e olhámos um para o outro.
e então, subimos?
a casa tinha um aspecto que me agradou desde logo. a construção antiga, a rugosidade das paredes, a luz escassa nas das escadas de madeira e o soalho que rangia a cada passo debaixo dos nossos pés.
deu-me a impressão de ter ouvido o ressonar de um vizinho no caminho até ás aguas furtadas. não consegui conter o riso.. talvez por saber que não deviamos fazer muito barulho. ou então..
é aqui.. ele rodou as chaver na fechadura.. e depois do som metálico avançou sem acender qualquer luz..
segui-o.
o ar cheirava a.. julgo que era canela. o cheiro era-me agradavel.. não me questionei pela reduzida luz que nos fazia acompanhar.
aos poucos consegui distinguir as formas dos objectos que me rodeavam.. um sofá.. uma mesa baixinha com alguns livros empilhados.. nas paredes deveriam ser quadros, apesar de não conseguir ver as imagens. junto ao chão estava um colchão, deveria ser a cama..
ele estava junto a uma janela rasgada desde o tecto até ao chão..
anda cá.. quero que vejas isto..
segui-lhe a voz..
não é uma vista fantástica? só esta vista vale o preço da casa.
as luzes da rua.. dali avistava-se parte antiga da cidade.. e se focasse o olhar lá ao longe estava o negro do rio, onde se reflectiam as luzes e o reflexo da lua.
é bonita visão, não achas?.. -- senti os olhos dele perto..
sim é.. muito bonita mesmo. consegues ver o rio e tudo, és um privilegiado.
acho que deviamos sentar-nos aqui a conversar..
não acendas a luz então . -- respondi de imediato. não pensei bem no porquê de lhe ter dito aquilo.
vi-o sorrir.
ok.. é da maneira como não te apercebes da confusão em que tenho a casa.. então dá-me um segundo.. olha, vou puxar praqui um sofá e faço-te uma vista improvisada para a cidade. tomas algo?
humm.. tens um chá..?
claro.. eu arranjo-te. -- a voz dele soou atrás de mim -- dá-me o teu casaco, eu guardo-o ali..
as mãos dele passaram suavemente pelas minhas costas; levantei o cabelo para o ajudar a despir-me. as suas mãos tocaram-me levemente o pescoço, o que me causou logo um arrepio que julgo não ter conseguido disfarçar grandemente..
devias cortar o cabelo pela altura do teu pescoço.. -- disse ele num tom mais baixo do que o até então.
porquê? -- perguntei intrigada, levando as mãos aos caracóis..
porque acho o teu pescoço bonito..e assim via-o melhor.. -- depois riu-se e voltou a perguntar -- então.. queres um chá.. é isso? vou fazer. entrentanto fica à vontade, escolhe algo que queiras ouvir, põe ao calhas. os meus CD's estão aí nessa coluna à tua esquerda.
lá dei com o primeiro CD que apanhei .. o som da "Scatterheart" invadiu por momentos a sala.
muito bom! adoro essa música -- ouvi-o dizer lá ao longe.
continuei a olhar pela janela enquanto ouvia os sons que vinham da cozinha a misturarem-se com a musica.
sentia-me extremamente bem ali...

16 março 2009

soon we'll be found

o vento abrandara.
as pessoas começaram a adormecer, acordando os sons da velha casa.
lembro-me que nessa altura a música já tinha parado.
o chão de madeira fez um leve som semelhante a um estalido.. levantei os olhos para ver o teu rosto tão perto do meu.
o reflexo trémulo entre as sombras.. a cor dos nossos cabelos em contra luz.
deitada de lado, desejei que a minha boca não deixasse a tua nem por um segundo.. mas entretanto nesses pensamentos devo ter adormecido.
acordei com a luz azul da madrugada, o som de meia dúzia de pássaros a chilrear lá fora.. uma pequena formiga a andar por cima do livro que entretanto tombara junto ao colchão.
movi um pé nos lençóis que nos cobriam, levantei a cabeça e voltei a olhar para o lugar que tinhas ocupado durante a noite.
fechei os olhos e desejei
que tivessemos feito amor, trocado segredos.. ficando depois a sorrir em silêncio no escuro.

15 março 2009

feeling good

sabe bem quando nos rimos até a barriga doer e parecer que o corpo se desencaixa e vai dançando sozinho.
há qualquer coisa de particularmente agradável quando rimos com alguém.

existe ali algo que não se explica com nenhuma das palavras já inventadas.
humm..

#19 doença.crónica

se quiseres posso ficar e ajudar-te a arrumar esta barafunda.. é melhor fazer isso agora senão amanhã acordas e dás com isto..
fora assim que acabara por ficar mais umas horas em tua casa. dei comigo na tua cozinha a partilhar o mesmo espaço que tu e a dar conta do quanto isso ainda continuava a ser-me estranhamente familiar. não nos olhámos muitas vezes durante o tempo que demorou a arrumar os restos do jantar.
estavamos ambos cansados e não falámos muito. ou pelo menos demos como desculpa o cansaço para não trocarmos muitas palavras.
foste até á janela da cozinha, fizeste deslizar o vidro e acendeste um cigarro.. bolas, como eu adoro a maneira como acendes um cigarro.. brincando com o lume do isqueiro e deixando discplicentemente o fumo sair da tua boca, fazendo contornos e desenhos de fumo no ar.
desviei o olhar e voltei a olhar para a espuma branca que se amontoava à minha volta.. a sensação da água e dos pratos e copos já lavados que se alinhavam à minha frente.
queres dar um bafo? -- diz a tua voz.. -- já aí vou deixa-me só terminar aqui isto..
hey, chega aqui agora, a louça pode sempre esperar.. ou tens pressa de ir a algum lado?
acedi e fui até á janela.
lá em baixo um casal estava sentado num banco de jardim, mesmo debaixo de uma velha arvore onde já estiveramos os dois numa tarde.
nesse momento a minha cabeça bloqueia qualquer pensamento de teor delico-doce e opto por me encostar melhor e observar o jardim, mas desta vez olhá-lo como se me fosse um sitio estranho, sem memórias.
um dia sei que farei o mesmo contigo, e tu comigo.. será?

já é tarde -- ouço-me dizer enquanto levo as mãos ao cabelo.
já tens de ir? -- quase que me pediste para não ir e ficar mais um pouco, mas sei que isso teria agora um peso que não poderia carregar.. um preço demasiado alto para ambos e no fundo, mesmo no fundo, nenhum faria muita questão de que isso acontecesse.
levantei-me, vesti o casaco, agarrei na mala, olhei para ti com o olhar das despedidas. deste-me um beijo na testa e abriste a porta. tens a certeza que vais bem assim?..
claro que sim, não te preocupes.
então adeus.. não é?
esbocei um sorriso ou qualquer coisa que se assemelhou a um sorriso. acho que agora já não saberias diferenciar um do outro.
desci as escadas o mais calmamente que consegui e ao chegar à rua suspirei tão profundamente como se tivesse acabado de correr uns bons metros.
desci a rua e apanhei um táxi rumo a casa.
para onde? -- a pergunta da praxe.
siga por aqui. -- encostei-me ao vidro e fui observando a rua a passar-me pelos olhos. como se fosse uma ultima vez. depressa chegaria a casa.. e esta sensação desapareceria de vez.
agarrei no telemovel, e dei comigo a olhar para o teu numero.. apaguei-o.
em que estarás a pensar neste momento?.. e agora?

14 março 2009

clic.

ficou um ruido naquele espaço.
as paredes do quarto parecem ter absorvido todas as pausas, quebras de voz, palavras.. e os respectivos silêncios.
aquelas palavras que desejariamos ter dito, as que gostavamos de ter ouvido.. as que foram ditas no momento errado.. as que não soubémos ouvir. as que não soubémos calar.
clic.
é o botão que desliga e a cabeça não pára.. é o nó que sobe desde o coração até ao pescoço e deixa o resto do corpo em desalinho.
o que poderia eu ter dito ao invés de..?
o que poderia ter feito melhor para calar?
mas quando não se tem o que dizer o silêncio é o melhor remédio.
e não quero ser a unica a pensar em repeat todas as cenas desta curta-metragem.

13 março 2009

it makes no difference to me

I am feeling very warm right now
Please don't disappear
I am spacing out with you
You are the most beautiful entity that I've ever dreamed of

At night I will protect you in your dreams
I will be your angel
You worry so much about not having enough time together
It makes no difference to me
I would be happy with just one minute in your arms
Let's have an extended play together
You're telling me that we live to far to love each other
But your love can stretch further than you and I can see
So how does it make you feel?


Do you know when you look at me
It is a salvation
I've been waiting for you so long
I can drive on that road forever
I wish you could exist to live on my planet
Well it's very hard for me to say these things in your presence
So how does it make you feel?

How does it make you feel?
How does it make you feel?

- So how does this make you feel?
- Well, I really think you should quit smoking.

08 março 2009

#18 doença.crónica

demorei demasiado tempo a aperceber-me como tu..
a aperceber-me do quanto eu..

digo-te adeus, mas para mim digo-te para não ires.
subo para a carruagem, as nossas mãos tocam-se quando me dás a mala. os nossos olhares cruzam-se por instantes, sorrimos.. e deixamos escapar um suspiro profundo.. como se naquele suspiro ficassem presas todas as palavras que nenhum de nós diz.
entro na carruagem.. está estranhamente vazia.. sento-me junto á janela.. mas rapidamente mudo de lugar no comboio.. recuso-me a gravar na mente a tua imagem a afastar-se e prefiro mudar para o banco mais longe da janela, ainda que afastar-me de ti seja a unica coisa que não queira fazer.
aperto com mais força do que devia a mala.. vou fazendo pressao com os meus dedos..
ouço o ruido das pessoas lá fora.. nas despedidas.. será que ainda lá estás?
levanto-me, deixo cair a mala em cima do banco e espalmo a cara no vidro á tua procura.
vejo o teu rosto no meio daquela massa de pessoas que se despedem.. riem, choram, abraçam-se.
tu estás imovel.. o sol do fim da tarde bate-te no rosto, o que te faz franzir a testa.. o que te faz ficar com um ar levemente cómico. não consigo evitar esboçar um sorriso.
levas a mão ao cabelo e depois ao bolso.. tiras o telemovel, vês as horas e voltas a apertar o casaco.
lembro-me da primeira vez que te vi com ele vestido..
está vento..
bato no vidro.. e digo baixinho o teu nome.. só porque sim.. sei que não me vais ouvir na mesma mas sabe-me bem ouvir-me dizer o teu nome.
ouve-se ao longe o som do ultimo aviso antes do comboio partir.
e se eu saisse?? e se eu saisse agora?
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Travelling north, travelling north to find you
Train wheels beating, the wind in my eyes
Don't even know what I'll say when find you
Call out your name love, dont be surprised

It's so many miles and so long since I've met you
Don't even know what I'll find when I get to you
But suddenly now I know where I belong
It's many hundred miles and it won't be long

It wont be long... It wont be long... It wont be long

Nothing at all in my head to say to you
Only the beat of the train I'm on
Nothing I've learnt all my life on the way to you
Only our love that's over and gone


It's so many miles and so long since I've met you
Don't even know what I'll find when I get to you
But suddenly now I know where I belong
It's many hundred miles and it won't be long

about what love is..

"Too many guys think I'm a concept, or I complete them, or I'm gonna make them alive.
But I'm just a fucked-up girl who's lookin' for my own peace of mind; don't assign me yours."

05 março 2009

I've stood in a thousand street scenes
Just around the corner from you
On the edge of a dream that you have
Has anybody ever told you it's not coming true



The Kills

crash.. car crash!!

About as subtle as an earthquake, I know
My mistakes were made for you
And in the back room of a bad dream, she came
And whisked me away

And it's solid as a rock rolling down a hill
The fact is that it probably will hit something
On the hazardous terrain

And were just following the flock, round
And the inbetween, before we smash to smithereens
Like they were, and we scrambled from the blame


The Last Shadow Puppets

04 março 2009



- "bolas! mas porque é que eu nunca encontro aquilo que ando à procura!!??" -- disse ela com um ar desconsolado enquanto pousava umas folhas de arquivo nos joelhos. deixou-se estar assim sentada no topo do escadote.
- "ora porquê, ora porquê.. talvez seja porque tu não procuras as coisas onde as deverias procurar, P.
ah pois é.. ás vezes as coisas estão mesmo à tua frente e tu nem assim as vês."

humm.. =/

03 março 2009

dark was the night

eu quero isto!

ok.. é tudo por hoje.

*sofia retira-se em silêncio*


All I want is the best for our lives, my dear
and you know my wishes are sincere.
What's to say for the days I cannot bare.

A Sunday smile you wore it for a while.
A Sunday mile we paused and sang.
A Sunday smile you wore it for a while.
A Sunday mile we paused and sang.
A Sunday smile and we felt true.

i see the stars around your face..