querido portugal.. o problema és TU!

«Portugal eu amo-te, mas vou deixar-te.
Tentei contrariar esta decisão com todas as minhas forças, mas não dá mais.
Por muito que goste do teu calor, da tua luz, da tua comida, isso não chega.


Não correspondes ao meu amor. Eu quero um compromisso sério, tu continuas a brincar. Seria de esperar que um país com a tua idade tivesse mais maturidade.
Prometes mudar. Prometes. És bom nisso. Mas eu não vivo de intenções. Investi a minha juventude em ti, e tu nada me deste em troca.


Talvez se eu viver uma temporada noutro país, tu me dês mais valor. (Sempre tiveste uma queda pelas coisas que vêm de fora.)
Não se trata de acabarmos, mas de darmos um tempo. Preciso de me afastar desta nossa dinâmica doentia. Obrigas-me a poupar e depois gastas o meu dinheiro nos luxos dos teus amiguinhos. Fazes-me alinhar nos teus esquemas e subterfúgios, depois desenrasca-te à conta de me deixares a mim, e a quase todos os que te sustentam, na corda bamba.


Dizem que não me mereces.
Vejo-me obrigada a concordar.
És uma má influência e eu quero viver num país que me ajude a ser uma pessoa melhor.
O teu desinteresse por mim atingiu o meu limite.
Portugal meu querido, ainda me estás a ouvir? Tenho tanto para dar. Por dar.


Repito: não é uma decisão fácil. Sublinho: apesar de tudo era contigo que eu queria ficar.


Não é só de ti que me despeço.
Doem-me todos os amigos que deixarei para trás por me afastar de ti. São indizíveis as saudades que vou ter de falar a tua/nossa língua.
Vejo o teu potencial e aflige-me o quão longe estás de o alcançar.
Não queres nem sabes como libertar-te dos teus vícios.


Como é fácil sucumbir a essa tua sedução de quem viveu toda a vida mimado pelo Sol e pelo mar. Mas o Sol faz rugas, e à força de afastares quem quer crescer contigo acabarás um país envelhecido. Estéril como o sal.
Sei que no fundo invejas a outra Europa. Não por ser nórdica ou gélida, mas por ser rica.
É para lá que penso ir. Para longe dos muitos que ganham pouco. Onde todos vivem bem.


Obrigada pelos bons momentos que passámos juntos.
Foste para mim o primeiro, e serás sempre o país do meu coração.
Desconfio que terás mais aptidão para anfitrião que para companheiro de vida.
Veremos o que o futuro nos reserva.
Escreve-me a dar notícias. Se as tiveres boas.»
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Cláudia Ribeiro