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15 fevereiro 2009

o amor segundo..

Tiro fotografias várias à minha amada deitada sobre a relva, mas não gosto de ser fotografado.
Entre um homem e uma mulher poucos são os sentimentos recíprocos.
O sexo é um antídoto para esquecer isso, que às vezes resulta. Eu digo-lhe com o ar mais sensato que tenho:
"A vida são muitas coisas. O amor é só uma entre muitas".
E ela responde de seguida:
“A vida pode mudar muito mais do que se espera. O amor é o que está acima de tudo. Tudo altera. Nos teus braços morreria".
... e eu fico envergonhado.

Meu amor, à pressa de chegar a alvorada, ser a água a correr. Os animais espremessem e dormem, mas eu não mais terei sono e vou despir-te tão lentamente como se tece o tecido de uma estação. Os dedos a arder, na doçura negra dos teus cabelos, e à volta tudo se ergue e respira.
(Pedro Paixão)

04 janeiro 2009

é madrugada

sentam-se..
cada um no canto de um sofá comprido. veludo verde. não falam. olham-se. não têm pressa de chegar a lado nenhum. ele pergunta se ela quer um sumo de alperce. diz que sim. ele levanta-se. com gelo ou sem gelo? ela diz: tanto faz. ele desaparece.
uma pessoa conhece outra pessoa porque não sabe muito bem o que está a fazer. senão não o faria.
uma pessoa é um mundo. um mundo é muito grande.. demasiado grande para a própria pessoa, com alguns abismos e lugares escondidos e zonas nunca iluminadas.
ela procura não pensar muito nisso.
o homem entra na sala com um copo de sumo de alperce em cada mão. diz: aqui tem. volta a ocupar o lugar exacto do sofá.
o mundo é estranho. está sempre a mudar e é sempre o mesmo. é o que pensa enquanto prova o sumo de alperce. ela diz: obrigada. é tão estranho existir sumo de alperce, diz julgando-se só. ele pede para ela repetir porque não ouviu bem e ela diz: não é nada importante.
ambos parecem não pretender nada um do outro. por ela podiam continuar assim indefinidamente. ele não é bonito nem feio. por instantes parece mais bonito, por instantes mais feio. tenta vê-lo como se fosse feio. depois como se fosse belo. e consegue-o.
um pequeno defeito na expressão pode para sempre destruir uma cara de outro modo perfeita.