A invenção do amor
Em todas as esquinas da cidade, nas paredes dos bares à porta dos edifícios públicos, nas janelas dos autocarros, mesmo naquele muro arruinado por entre anúncios de aparelhos de rádio e detergentes...
na vitrine da pequena loja onde não entra ninguém, no átrio da estação de caminhos de ferro que foi o lar da nossa esperança de fuga...
um cartaz denuncia o nosso amor.
Em letras enormes do tamanho do medo da solidão, da angústia, um cartaz denuncia que um homem e uma mulher se encontraram num bar de hotel numa tarde de chuva entre zunidos de conversa e inventaram o amor com caracter de urgência, deixando cair dos ombros o fardo incómodo da monotonia quotidian.
Um homem e uma mulher que tinham olhos e coração e fome de ternura e souberam entender-se sem palavras inúteis.
Apenas o silêncio.
A descoberta.
A estranheza de um sorriso natural e inesperado.
Não saíram de mãos dadas para a humidade diurna.
Despediram-se e cada um tomou um rumo diferente, embora subterraneamente unidos pela invenção conjuntade um amor subitamente imperativo.
Um homem e uma mulher, um cartaz denuncia colado em todas as esquinas da cidade.
A rádio já falou, a TV anuncia iminente a captura.
A policia de costumes avisada procura os dois amantes nos becos e nas avenidas.
Onde houver uma flor rubra e essencial é possível que se escondam tremendo a cada batida na porta fechada para o mundo.
É preciso encontrá-los antes que seja tarde... antes que o exemplo frutifique.
Antes que a invenção do amor se processe em cadeia.
poema de Daniel Filipe
1 comentário:
ao ler este poema lembrei-me de uma musica dos New Order....Oh, love is found in the east and west
But when love is at home, it's the best
Love is the cure for every evil
Love is the air that supports the eagle
It's called love
And it's so un-cool
It's called love
And somehow it's become unmentionable
It's called love
And it belongs to every one of us
It's called love
And it cuts your life like a broken knife
Simplesmente...o Amor!
kiss
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