03 novembro 2009

as primeiras chuvas

lembra-se de quando era pequena..
de quando tinha de se pôr em bicos de pés para chegar às prateleiras mais altas..
de quando esticava os braços para alcançar o chocolate e ia a correr comê-lo para o quarto da avó, com a cabeça encostada ao vidro, a ver a chuva cair lá fora.
esborrachava o chocolate na mão enquanto esperava ouvir a voz da mãe a apressá-la para o mundo lá fora:
"despacha-te, tenho de te levar à escola antes que volte a chover.. vai calçar as galochas e pentear esse cabelo".
a casa cheirava sempre a torradas e ela não queria ir para a escola.
preferia ficar ali a comer chocolates e a ouvir as histórias que a avó inventava. deitava a cabeça no colo dela e deixava-se ir por cada palavra que ela lhe contava.. e sabia-lhe bem.
mas agora está já de mão dada com a mãe e descem a rua rumo à escola.
ela vai olhando para o chão.. as galochas encharcadas.. a barra da saia já molhada e uns pingos que lhe caem pela franja rumo ao nariz.
"mais logo a mãe passa aqui a buscar-te.. vá, da-me um beijo e entra.."
seguiu para dentro da escola.

pelo caminho outros meninos passam, também eles com a roupa molhada da chuva..
ela deixa-se ficar com a cabeça encostada ao vidro da entrada, a esborrachar o chocolate na mão ainda pequena, e a ver a chuva a descer a rua.

4 comentários:

MC disse...

Fizeste-me recordar um momento em que eu ainda não morava em Lisboa, por isso tinha menos de 5 anos. Lembro-me de chover e eu ir para a rua e de me pôr à porta do prédio com o olhar bem no céu...
Adorava sentir os pingos no meu rosto (ainda hoje gosto)

Mokas disse...

tenho saudades da chuva...
e de gozar a chuva

suru disse...

Gostei de te imaginar em miúda... :-)
Mas gostei de ver a palavra galochas a ser usada num texto :-D

Um depois de Edgar disse...

Sim, evocaste memórias que vão desvanecendo com a idade, lembrando-as com saudosismo conseguiste chegar a um ponto comum de toda a gente. Também me lembro desses invernos. Pareciam mais chuvosos e mais frios. Apetecia a rua sésamo e chocolate galak. Os meus tenis de luzes avariaram numa poça, eu amava-os mas adorava mais chapinhar na água. tudo era tão puro.
=) beijo sofya