as ruas estavam já frias e a luz era fraca.. dali a instantes já só se veriam as luzinhas dos semáforos, dos faróis dos automóveis..
dás-me a tua mão..?
meti a minha mão ao bolso, estava terrivelmente fria..
e senti um certo desconforto por me sentir ali meio só.. no meio de todas as pessoas que se apressavam a regressar a casa ou ir para algum sitio onde as esperavam.
desci as escadas para o metro, ainda sem saber ao certo qual o percurso a fazer..
não me apetecia ir para casa. mas era o único sítio onde a minha presença seria esperada.
respirei fundo enquanto caminhava ao longo da plataforma.
tinha acabado de perder o metro.. e ganhar uns quantos minutos de espera..
sentei-me no banco e entreti-me a ler as folhas dum jornal que alguém ali deixara.
apenas levantei a cabeça quando um som familiar me despertou a atenção..
instintivamente meti a mão na mala em busca do telemovel.. mas quando vi o visor.. nada.
acho que já o deveria esperar mas o som de mensagem ecoara na minha cabeça como uma musica qualquer de esperança de que tivesses enviado mensagem..
mas era o telemovel de outra pessoa que tocara.
ao meu lado um rapaz sorria para o visor do telemóvel que sacara do bolso das calças.
por instantes quis aquele sorriso para mim.
desviei o olhar para o jornal até soar o aviso que outro metro estava a chegar.
levantei-me e deixei-o onde o encontrara.. apertei o casaco e meti as mão nos bolsos.
bolas tens as mãos tão frias..
deixa estar.. eu tenho aqui umas luvas.
dá-me a mão.. eu não me importo.
sentei-me num lugar junto á janela e enquanto contemplava o negro dos tunéis pensava para mim.. tenho vozes na minha cabeça que falam comigo.
lembranças de conversas que tivémos.. momentos que se passaram e que eu guardei por um ou outro motivo.. guardados como pequenos fragmentos de um todo que és tu.
não sei ao certo o espaço que ocupas, até porque nunca dispensei muito tempo para pensar nisso mas.. mas tenho a certeza que é muito mais do que julgo que seja.
e quando não estiveres.. ficará um enorme vazio.
as portas do metro abrem-se e penso..
vou sair aqui.
Tim Buckley
1 comentário:
funny familiar feeling...
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