20 outubro 2009

no bairro do amor

No bairro do amor a vida é um carrossel
Onde há sempre lugar para mais alguém

O bairro do amor foi feito a lápis de cor
Por gente que sofreu por não ter ninguém

O bairro do amor é uma zona marginal
Onde não há prisões nem hospitais
No bairro do amor cada um tem de tratar
Das suas nódoas negras sentimentais

Eh, pá, deixa-me abrir contigo
Desabafar contigo
Falar-te da minha solidão
Ah, é bom sorrir um pouco
Descontrair-me um pouco
Eu sei que tu me compreendes bem



Jorge Palma

19 outubro 2009

o libertino

no inicio


Allow me to be frank at the commencement.
You will not like me.
The gentlemen will be envious and the ladies will be repelled.
You will not like me now, and you like me a good deal less as we go on.
Ladies...an announcement. I am up for it. All the time.
That is not a boast or an opinion it is bone-hard medical fact. I put it round you know. And you will watch me putting it round and sigh for it. Don't. It is a deal of trouble for you, and you are better off watching and drawing your conclusions from a distance than you would be if I got my tarse up your petticoats.
Gentlemen, do not despair. I am up for that as well, and the same warning applies. Still your cheesy erections until I have had my say but later when you shag - and later you will shag, I shall expect it of you, and I will know if you have let me down. I wish you to shag with my homuncular image rattling in your gonads. Feel how it was for me, how it is for me. And ponder...was that shudder the same shudder he sensed?
Did he know something more profound? Or is there some wall of wretchedness that we all batter with our heads at that shining live-long moment. That is it. That is my prologue. Nothing in rhyme. No protestations of modesty - you were not expecting that I hope! I am John Wilmot. Second Earl of Rochester. And I do not want you to like me."


o fim..

how do you like me.. now..?

16 outubro 2009

vermelho sangue

levou as mãos atrás da cabeça em direcção à mesa e agarrou o copo de àgua.
sem abrir os olhos levou-o à boca e bebeu-o de um trago.
é o saber exactamente onde estão as coisas que lhe dá agora uma (falsa) sensação de segurança.
depois continuou deitada na cama com o copo na mão e uma sensação de vazio.
com a outra mão passou-a ao longo do colchão, alisando o lençol.. fez este gesto umas quantas vezes até se cansar e aceitar a ideia de que tinha de se levantar.
não estava mais ninguém em casa.. assim parecia.
por instantes a ideia agradou-lhe, mas depois a solidão começou a invadi-la e já não a entusiasmava não sentir a presença de outro alguém.
mas tentou fazer de conta que isso não a incomodava mais do que gostaria.
dizem que é tudo uma questão de hábito não é? -- falou olhando para o gato preto que se enroscava aos seu pés.
deu meia volta pela casa.. o estalar das escadas de madeira fizeram-na rodar a cabeça naquela na direcção e ficar à espera.. não tardou muito até escutar umas pancadas fortes na porta.
foi-se aproximando e.. do outro lado da porta estava..
num gesto levou as mãos á boca e permaneceu estática á espera que tudo terminasse.
a hemorragia ainda não estancara pelos vistos.
tanto tempo de enganos para agora dar nisto.. o pensamento foi quebrado pela sensação de calor que a invadia.. parecia brotar directamente do peito.
num impulso leva a mão ao peito e quando a vê está completamente vermelha..
estranhamente deixa-se ficar a olhar para ela.. vermelho vivo.. quente.. e continua a sair.. escorria já até ao chão.
não entendia o que se passava.. não conseguia pensar.
deixa-se deslizar pela porta e senta-se no chão ainda a olhar para..
ao longe ouve o gato miar aflitivamente.
parece-lhe que o som está cada vez mais longe.. mais longe..
do outro lado da porta ouve uma voz conhecida. o simples tom é o suficiente para fazer abrir mil gavetas dos baus que julgava já estarem mais que trancados e atirados para o mais fundo de si.
deita-se no chão.. sente duas lágrimas gordas deslizarem pela cara.. deslizam quentes pelo rosto.. uma sensação de calor que a invade para logo depois dar lugar a um frio que lhe chega em arrepios, como ondas.
fecha os olhos..
deixa-se ir.

quando os abre está de novo deitada na cama.
levanta-se bruscamente e num gesto rápido afasta a camisola e leva a mão ao peito.
nada.. está tudo normal.. apenas o coração bate mais acelerado, mas logo depois a certeza que está tudo bem.
passa as mãos pelos cabelos, despenteia a franja e volta a deitar-se sem fechar os olhos..
sorri.. e depois ri-se.
ri-se alto.. o som do riso ecoa pelas paredes do quarto como que a dizer o quão tola fora.
foi apenas um sonho, bolas.. foi apenas um sonho.. -- repete enquanto esfrega as pernas nos lençóis.
o som de uma pancada surda na porta obriga-a a levantar..
vai descalça até á porta.
pelo caminho quase que tropeça no gato que estava deitado na madeira do chão a apanhar já a luz do dia..
bolas misty, que susto!! mas que raio de mania a tua!! -- refila..
encosta-se á porta e espreita a ver quem é.
o coração começa de novo a bater-lhe disparado no peito, mas desta vez sabe que não é apenas momentaneamente.. aliás, tem a certeza que tão depressa não parará.
abre a porta. sei que estás aí.. já ouvi a tua voz. não vais andar a adiar mais isto pois não?
passa as duas mãos na cara e deixa-as descer pelo peito arrastando consigo aquela mancha.
quente de novo.. vermelho.. vivo.
começara tudo de novo.
desta vez não era um sonho.
a confusão.. a confusão..
a ultima coisa que se lembra foi de ir começando a cair.. cair até estar já no chão.
antes de fechar os olhos podia garantir que a porta se abria devagar.


Ben Harper - Please Bleed

15 outubro 2009

o amolador é um lugar estranho

"Vem lá chuva”. -- É o que todos dizem sempre que ouvem o som do realejo do amolador.
Poucas são as vezes que se vê o amolador nas ruas, empurrando a sua pequena oficina ambulante, deixando atrás de si a característica melodia com que se faz anunciar.
O serviço consiste em afiar faca, tesoura, navalha, canivete, serra, e consertos vários. Os fregueses habituais são donas de casa, barbearia, talhos e restaurantes.
De bicicleta ou de motorizada (antes um carrinho com uma roda de uma carroça) no assento de trás transporta uma pequena caixa de madeira com um alicate e um martelo, entre outras ferramentas, e uma roda de esmeril para afiar as tesouras.
Presas na bicicleta, leva também velhas varetas de chapéus-de-chuva que as pessoas lhe vão dando. São utilizadas para arranjar outros chapéus-de-chuva.
O amolador trás uma gaita de 6 ou 8 vozes, dantes eram de madeira mas agora são de plástico. Não precisa de apregoar para avisar as pessoas de que vai passar pois “basta a cantilena” para o identificar.



mistério esclarecido! :)

30 minutos para contar carneiros


Nick Cave - Into my arms


pudesse eu adormecer ao som de uma musica em loop e hoje escolhia esta de certeza.

*suspiro*

estou com saudades de sentir frio de noite e desejar pôr mais uma colcha ou edredon na cama.. e acabar por não o fazer por preguiça de me levantar e acabar por adormecer toda enrolada.
não sei, sabia-me bem um aconchego extra que só essas malvadas peças de tecido proporcionam!!!
eu ainda sou do tempo em que havia uma coisa muito bonita chamada: estações do ano.
e em que o outono era mesmo outono.. com dias a escurecerem mais cedo, o frio a chegar, os assadores de castanhas, o ir buscar a roupa mais quente para usar, ver chegar os primeiros deias de chuva (bem, deste não tenho assim grandes saudades, mas ok, também fazem parte).
o amolador de facas passou na semana passada aqui pela rua.
dei conta porque ouvi o som da harmónica que ele toca para chamar as pessoas (aqui esta parte é que já me escapa) e fiquei a vê-lo a descer a rua.. figura misteriosa aquela..
já desde pequena que ele aparece de vez em quando e quando o faz, normalmente é sinal de chuva.
se não chove então no dia a seguir é limpinho.
confirma-se sempre.
é o homem que anuncia e traz a chuva.
a cena das facas é só para despistar.

09 outubro 2009

bad mojo

há muitas coisas que eu gostava de entender.
mas dentro de todas as coisas há aquelas que já entendi, e não sei se vale a pena continuar simplesmente a fazer de conta que ainda não as sei.


estico o braço e apago a luz.

06 outubro 2009

o outono..

"estrada branca, lua branca, noite alta, tua falta
caminhando, caminhando, caminhando ao lado meu
uma saudade, uma vontade, tao doída, de uma vida,
vida que morreu

estrada passarada, noite clara,
meu caminho é tao sozinho, tao sozinho, a percorrer
que mesmo andando para a frente,
olhando a lua tristemente
quanto mais ando, mais estou perto de você

se em vez de noite fosse dia, e o sol brilhasse e a poesia
em vez de triste fosse alegre de partir
se em vez de eu ver só minha sombra, nessa estrada
eu visse ao longo dessa estrada, uma outra sombra a me seguir
mas a verdade é que a cidade ficou longe
ficou longe na cidade, se deixou meu bem-querer..

eu vou sozinho sem carinho,
vou caminhando meu caminho
vou caminhando com vontade de morrer"



se o outono tivesse um cheiro seria certamente o que se sente quando passamos pelos vendedores de castanhas e aquele fumo se entranha na nossa roupa quando se regressa a casa, já com menos luz e mais roupa..
se fosse uma música seria esta.
hoje para mim pelo menos é.

05 outubro 2009

chovia lá fora e dei com esta música. e tudo me pareceu fazer sentido..


Neil Young - Old Man

Old man look at my life, I'm a lot like you were.
Old man look at my life, twenty four and there's so much more
Live alone in a paradise that makes me think of two.

Love lost, such a cost...
Give me things that don't get lost.
Like a coin that won't get tossed
Rolling home to you.

Old man take a look at my life, I'm a lot like you
I need someone to love me the whole day through
One look in my eyes and you can tell that's true.

Lullabies, look in your eyes, run around the same old town.
Doesn't mean that much to me to mean that much to you.

I've been first and last, look at how the time goes past.
But I'm all alone at last.
Rolling home to you.