15 setembro 2008

fechado para obras

estive há dez minutos atrás da varanda do meu quinto andar a observar a cúpula invisível entre o céu e o enorme lego de betão
e a sentir-me um inquilino passageiro desta pensão de uma estrela
perdida na imensa cidade negra a que damos o nome de universo.

curiosamente parece que é o único sítio que temos para passar a longa noite que nos espera.
e é aí que eu saio para apanhar a frequência.
como que a comer um ponto e a cagar um verso no meu prisma, a encaixar, provavelmente, no de outros, feito um filósofo de merda.

mas a vida é isso mesmo, um monte de gente a fazer de conta que se entende e ninguém sabe dizer o que viveu.
e por isso nos pedem que caminhemos alegres para o precipício, sem questionar, porque estaremos sempre longe.
mas longe rapidamente fica perto, e perto rapidamente passa por nós.

eu não quero mandar-te para baixo, mas eu sei que me entendes,
tu também tens medo de morrer, toda a gente tem.
só que normalmente evocamos nomes de problemas
para nos convencermos que estamos ocupados a resolver uma situação
importante quando não tem importância nenhuma.

entretanto o tapete rola e nós irritamo-nos com a inevitabilidade,
e nos nossos sonhos dizemos:
-torna-me imortal! torna-me imortal!


eu não vou aguentar deixar de existir!
mas quero dizer-te que a viagem é tua, e eu não quero empurrar-te à força para a rua.
se eu falhar eu vou passar de deus a carrasco,

embalsamado e metido dentro de um frasco, para te lembrares da mentira,
mas a verdade é que ganhamos sempre.

2 comentários:

Vera Isabel disse...

bem, esse senhor deve ser mesmo especial, para não o "largares" nos últimos tempos. tenho de ouvir.

mesmo que tenha nome de dono de tasca de tintol.

Mokas disse...

Sim Arya, o gajo é même BOM!
e veio comigo trabalhar hj.