espaço para devaneios, disparates, desvarios, desejos, insanidades momentaneas, estados de espirito, rascunhos, meras palavras que formam o esboço de qualquer coisa a que um dia decidi chamar blog.
24 janeiro 2006
Fingir que está tudo bem
Fingir que está tudo bem, o corpo rasgado e vestido com roupa passada a ferro, restos de chamas dentro do corpo, gritos desesperados sob as conversas… fingir que está tudo bem. Olhas-me e só tu sabes… na rua onde os nossos olhares se encontram é noite. As pessoas não imaginam: são tão ridículas as pessoas, tão desprezíveis.
As pessoas falam e não imaginam.
Nós olhamo-nos: fingir que está tudo bem… o sangue a ferver sob a pele igual aos dias antes de tudo, tempestades de medo nos lábios a sorrir… «será que vou morrer?» pergunto dentro de mim.
Será que vou morrer? Olhas-me e só tu sabes.
Ferros em brasa, fogo, silêncio e chuva que não se pode dizer.
Amor e morte… fingir que está tudo bem. Ter de sorrir… um oceano que nos queima, um incêndio que nos afoga.
José Luís Peixoto, «Fingir que está tudo bem» in A criança em ruínas
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1 comentário:
É apenas dos escritores que mais gosto! e o livro "morreste-me" é fenomenal!!!
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