14 março 2006

Nem tudo o vento levou






















Porque é que continuas a prometer-me aquilo que nunca me poderás dar?
E porque é que me deste aquilo que nunca ninguém me tinha prometido?
A saudade que hoje sinto de ti assemelha-se a uma melodia quente, líquida e muito distante. Obrigavas-me sempre a ver o luar, mesmo quando eu não queria...
Apetecia-me sair dali.
Cortar a estrada.
Assimilar o sangue do sol e contigo construir um novo conceito que quebrasse as barreiras do pensamento.
Na altura queria dar vida ao lado mais escuro da lua e ver-te sorrir na cara do tempo... queria que me levasses a ver o mar e que deixasses o vento transportar a minha alma para dentro de ti.
Deixarias na areia húmida as marcas de uma presença que facilmente seriam levadas pela água, mas que nem por isso deixaria de ter sido real.
Uma presença nossa, indefinível no tempo e no espaço, mas forte como a onda que bate na praia com a fúria de um condenado preso à eternidade.
Por hoje nada mais.
Desculpa.
A noite disse-me que tenho no olhar a promessa de um beijo que não tarda...

Não queria olhar para trás e ver que "nós os dois" seria igual a nada.
É mais fácil morrer de nada do que de dor.
Contra a dor podemos revoltar-nos, contra o nada não.
Por isso prefiro que continuemos a ser alguma coisa. Os dois juntos.
Uma breve recordação. Uma história por acabar. Mas alguma coisa...

"I remember what you told me before you went out on your own:
Sometimes to keep it together we got to leave it alone.
So you can get on with your search, baby
And I can get on with mine
And maybe someday we will find
That it wasn't really wasted time."

O tempo passou... escorreu nos relógios, cristalizou-se nos dias que teimaram em passar... e em consciência sei que se deu absolutamente tudo o que havia para dar.
Não ficou nada por dizer.
Muitas noites sem rumo, muitos gritos da alma que se afundavam na realidade que não podíamos nem sabíamos mais combater.
Noites em que nos perdíamos e nos reencontrávamos vezes sem conta.
Só porque era bom... Só porque era muito.
Hoje já não me importo que estejas longe.
Prefiro essa ausência à que sentia quando estavas presente.
Subitamente a distância de mim aos outros dissipou-se e deu lugar a um mar que me transporta na sua ondulação sem destino pré-definido.
E não me angustia mais não saber exactamente onde me vai conduzir.
Hoje dei por mim a vibrar novamente só por notar que a minha pele ainda é macia e quente, que a minha boca ainda tem a forma do desejo e que as minhas mãos ainda mergulham sofregamente na realidade com a certeza inabalável de que vale a pena ousar...
Olhei o meu reflexo em tudo o que à minha volta mo devolve.
E, surpreendida, constato que estou a sorrir...

2 comentários:

NRF disse...

Há certas questões que não nos devemos questionar para não fugirmos do nosso próprio destino...! Não é por termos medo de chorar que vamos deixar de rir... kisses**

Taliesin disse...

Aqui está uma prova de que as palavras podem fazer textos sublimes…Podemos utilizar as palavras como balas que invadem o silêncio e nunca se perdem, viajam. O transporte pode tomar as mais diversas formas e o caminho pode parecer sinuoso, mas acredito que encontrarão sempre o seu destino.**